terça-feira, 1 de julho de 2008

Onde estão os miolos?

Quando os dias passam e o mundo gira, os atos, palavras e situações vão sem volta. Um contínuo desenrolar de fatos, que se enrola em um novelo sem fim, que cresce, cresce e quando se percebe, já não mais se sabe de onde veio, o que existe lá no meio.

Apenas um miolo, encoberto, coberto de informações, escondido.

Mas está lá: sente-se. Ele pulsa porque quer ser ouvido, mas não é. Somente os bem sábios, ou aqueles não têm medo de ir bem fundo, de andar pelas trevas e reconhecer o desconhecido, vão conseguir chegar a ele, a eles todos, todos os miolos, internos e externos: o miolo do mundo.

Somos todos enganados por tantos fios, de lã, de linha e de cabelo... Fios de diversas origens que nos querem sufocar pelo pescoço, e nos distanciam cada vez mais dos miolos...

É bem verdade que eu prefiro ficar assim, enrolada, guardada, quente: meu miolo seguro. Em espaço inatingível (ninguém nunca poderá tocá-lo, nem mesmo eu... nem mesmo EU?...)

Tenho certeza de que a opinião do outro não difere da minha, embora se tente dizer o contrário. Alguns se enganam, juram que sabem, mas a verdade é que os miolos estão todos guardados em local desconhecido, escondido, incógnito, ignoto, ignorado, muito além de onde nossas sábias mentes racionais podem chegar e, portanto, dificilmente alguém poderá movê-los.

Quanto a mim, eu poderia parar por aqui, e fim: cada um com seus miolos, nos lugares mais obscuros possíveis e impossíveis. Continuaria vivendo e vendo somente a ilusão das cores e texturas, das linhas que envolvem. Não teria maiores preocupações. Mas... se assim fosse, como ser e pertencer ao mundo?

Se eu não tentar saber do meu miolo, jamais poderei admirar o miolo do mundo!

Preciso pelo menos conseguir olhá-lo, para então entender o eu-no-mundo, sabendo-me e preocurando-saber-lhe: somente assim fará sentido.

Não, não me comparo aos sábios. Nem sequer desejo ser um deles. Não suportaria tal responsabilidade. Mas já não posso somente viver na ilusão dos fios. Está quente e confortável aqui dentro [quase não quero sair], mas de alguma forma, também, sufocante; porque sei que os fios são falsos e traiçoeiros.

Procura-me uma idéia:

De tentar desenrolar aos poucos, com toda a paciência necessária para se atingir a tolerância; para que eu me vá acostumando com a temperatura ambiente. Assim, quem sabe, quando pelo menos eu conseguir avistar sua ponta, tal qual a do iceberg, que engana quem o subestima, talvez nesse momento eu já consiga sentir pulsar o miolo maior. E então sentirei que retorno ao trajeto tão somente feito para mim, e poderei seguir caminho com tranqüilidade, sabendo que meus passos pisam minhas marcas já desenhadas.

Bom seria se todos do mundo tentassem fazê-lo, ao mesmo tempo. Um auspicioso desenrolar globalizado, solidário e fraternal. Onde começaríamos a nos perceber e ver uns aos outros como nunca antes. Afinal, não é sempre mais fácil quando se está junto?

Talvez não desta vez. Os primeiros passos são mesmo solitários, pequenos, vagarosos. Até dolorosos, repletos de dúvidas e inseguranças. Mas quando se enxerga o miolo, por mais que seja apenas por uma mínima fresta, então sim, existe a compreensão.

Então o eu, os outros, e a vida.

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