quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Valores versus Virtudes


Escrevi um texto para postar neste blog após vários meses de inatividade. No dicionário, inação: s.f. Falta de ação, de trabalho. Indecisão, inércia. Acho que andei me sentindo assim também por um tempo. Não que eu estivesse parada, bundando em casa sem fazer nada, muito pelo contrário: trabalhei muito durante o tempo da inação. Mas faltava uma energia maior, única, que promove a criação. O fato é que após todo esse tempo, finalmente resolvi escrever. Mas não tendo gostado do resultado e achando que o blog me implorava para ajudá-lo retomar seu espaço de dignidade na Web, para não cair no esquecimento, decidi postar um texto que me fez ter a sensação da criação, mesmo não sendo eu a autora. Isso acontece também... E mexe profundamente, no âmago do nosso ser. Um trecho do livro "Contra um Mundo Melhor" (começamos bem, heheh), do filósofo Luís Felipe Pondé, quem eu tive o prazer de ver na FLIP deste ano.

"Na filosofia atiga grega, Platão, Aristóteles, estoicos ou epicuristas sempre pensaram em termos de virtudes, e não valores. Virtude é um conceito que descreve o esforço de uma pessoa em controlar sua vontade e seus desejos em nome de alguma conduta específica: ser corajoso (combater o medo), ser generoso (combater o egoísmo), ser justo (combater a crueldade e a indiferença com o sofrimento alheio), ser metódico (combater o caos interior), ser trabalhador (combater a preguiça), ser fiel (combater a traição amorosa). Para haver virtude é necessário haver sofrimento, dor. Não há virtude no vácuoda agonia. Um dos traços bregas de nossa época é supor que se pode ter vida moral sendo feliz. A hipocrisia do cristianismo de outrora hoje habita a casa da praga do politicamente correto. (...)
Dependemos da graça para sermos virtuosos, nossa natureza vaidosa e orgulhosa por si mesma nunca sairá do seu pântano pessoal. A ideia de que nossa natureza humana seja um tormento me parece a mais verdadeira de todas as descrições da nossa vida. Sei que muita gente julga essa visão ultrapassada, mas sinto um prazer todo especial em ser ultrapassado num mundo superficial como o nosso. Por que superficial? Porque parasitado por engenharias para a felicidade."

Pondé, Luis Felipe: "O gosto da culpa", in: Contra um Mundo Melhor. São Paulo: Leya, 2010.


Apesar dos pesares e dos tormentos da vida, eu não acredito, como ele, que a felicidade não exista. Na verdade, acho que ele também não acredita no que diz. Mas com certeza, essa felicidade não estará nas parafernalhas que criamos, nem nas compras, nem nos entretenimentos. Gosto de pensar, como os budistas, os hinduistas, os praticantes de meditação, que ela faz parte da nossa natureza e está guardada em algum lugar dentro de nós, temos apenas que nos dar ao trabalho de lembrar onde!! Se a felicidade não existisse, as crianças não sorririam...

Um comentário:

Maria Clara disse...

Eu acho que felicidade é estarmos ao lado das pessoas que amamos. É poder ser útil a alguem que esteja precisando.