sábado, 13 de fevereiro de 2010

Cultura Índia – exageros e perversões


A India grita com a constância de uma criança querendo chamar a atenção, e atordoa, perturbando um coração em trânsito.

Tudo aqui é extremado, muitas falas, muitas cores, muitos carros, muito lixo, muita gente. As ruas por onde se caminha são as mesmas sobre as quais passam carros, motos, bicicletas, rickshaws e auto-rickshaws: não existem calçadas. Atravessar a rua é uma aventura. Não é possível para esperar a sua vez: é necessário jogar-se no meio dos carros, da fumaça, da buzina. Os que esperam educadamente que os carros parem para atravessar para o outro lado nunca conseguirão, pois a educação aqui é diferente. Ela não funciona em turnos, mas é tudo ao mesmo tempo sempre.

Aprende-se muito andando pelas ruas de Delhi. Por exemplo, a resistir em meio ao amontoado de informações, barulhos, cheiros, assédios e estímulos. Também aprende-se a não acreditar na boa vontade alheia, aparentemente ingênua e sem intenções, mas revelando-se, em seguida, abusada e corrupta. Muitos dos indianos têm caras angelicais e rezam com fé para seus deuses. Isso é um dos lados, que tem como oposto a desenvoltura dos mesmos em tentarem sempre passar a perna nos outros, principalmente nos estrangeiros, cobrando preços mais altos do que custam de verdade, omitindo fatos e até enganando sobre produtos e serviços.

O assédio nas ruas não é fácil, mas observar crianças de 6 meses a 4 anos acompanhando os pais durante suas jornadas de trabalho em locais insalubres, como construções – nas quais as mulheres são quem fazem os trabalhos mais pesados, tais quais carregar tijolos – é muito angustiante. Isso sem falar na grande quantidade dos pequenos que passam o dia brincando com o lixo, abundante pelas ruas de todos os vilarejos da região.

Uma cultura que não se incomoda com a sujeira: essa pode ser uma das definições realistas sobre a Índia. Aparentemente brega e porca para uma visão ocidental, mas ao mesmo tempo vívida e desenvolta em meio ao seu próprio caos. Em busca de uma renovação, ou talvez de uma redenção?

Fato é que o Ocidente não entende a Índia, mas busca nela o Paraíso Perdido.


P.S.: as impressões acima são baseadas em estadia em Delhi e cidades vizinhas, incluindo Agra, onde está localizado o velho Taj महल.

Um comentário:

Dedé disse...

Te achei irmã!!!