Amor Incondicional

Interesso-me pelo outro, sobretudo o que ainda não foi corrompido pela ambição, pelo dinheiro, por ser bem sucedido na vida. Por aquele que é simples e não sabe senão ser simples. Seja porque nunca teve nenhuma outra oportunidade mesmo, ou porque, quando a mínima oportunidade se aproximou, ele achou que aquilo não era pra ele, ou simplesmente não saberia SER dessa outra forma que tentava se aproximar.

Essas pessoas, ou muitas delas, quando sorriem, irradiam certa ingenuidade infantil e uma bondade primordial, levando-me, sem querer, a compreender o mais íntimo delas, mesmo sem saber, mesmo sem falar. E a amá-las, na sua simplicidade singela... Como se aquilo fosse a sinopse da vida, concentrada em uma pessoa, em um sorriso, em um ser em paz, que vive seus dias passo a passo, fazendo e refazendo as suas funções rotineiras, sem se queixar, sem precisar de mais, sem precisar de muito para ser feliz.

Essa é a sensação quando converso com o João, guarda de rua, natural do sertão do Ceará. Sempre bem humorado, das 6h da manhã às 6h da tarde, dando um palpite sobre o tempo e o clima. Sinto isso quando observo a Tonha faxineira, senhora negra e magricela, avó de 8 crianças, natural de Marília-SP, que conta alegremente as histórias da sua família enquanto faz a mesma limpeza de todos os dias. Ou quando cruzo olhares com alguma velhinha pela rua que, apesar de andar com dificuldade, sorri para a vida com a paciência de quem já se deixou ensinar tudo o que precisava; e sorri para mim, acalmando meu coração aflito.

Interesso-me e imagino como devem ser as vidas dessas pessoas, suas relações com familiares, suas casas, suas histórias. São tantos os fatos que contam uma história de vida! E sinto-me participando de uma história maior, inserida em um mundo repleto de problemas, mas onde, ainda assim, o amor é possível.