domingo, 19 de abril de 2009

Sem título

Sempre olhei com desconfiança para os edifícios: aqueles pequenos e inúmeros quadradinhos um ao lado do outro, compondo o retângulo maior que os contém. Mais parecem gavetas, espaço para depósito de coisas em geral: tapetes, sofás, TVs, eletrodomésticos, brinquedos e até... pesssoas.  Muitos deles representam mesmo a visão de uma cômoda, repleta de gavetinhas,  que permanecem fechadas a maior parte do tempo  sufocando tudo o que está dentro, quase impedindo de respirar. Gavetas amontoadas, quase sem espaço para tantas eletrocoisas, as quais competem com os cachorros e as crianças por um canto qualquer.

Como viver engavetado, sem poder correr, pular, fazer o corpo movimentar? Onde o caminho mais longo é o da sala para o banheiro quando não se pode mais esperar?

Não é à toa que os cachorros de hoje em dia precisam de spa, ofurô e acupuntura: tão logo nascem, já são castrados, obrigados a ter disciplina; não pular, não correr, não latir, não lamber. E as pessoas que ali vivem, tão disciplinadas quanto seus cãozinhos de estimação. Tão introspectivas nos seus mundos apartamênticos que não conhecem o ser humano com quem dividem a mesma parede, o mesmo elevador, a mesma falta de ar do "engavetamento". Não é à toa que, a cada dia, as pessoas precisem mais e mais de psicólogos, psicoterapeutas, ajudas transcedentais ou sobrenaturais.

Onde está o humano dos seres? Cadê o ser dentro dos humanos? E essa modernidade que tanto aspiramos, agora que está e é presente, o que fará de nós?

2 comentários:

Anônimo disse...

pódecrer. a gente "corre" tanto, "faz" tanto que acaba não sobrando tempo pra "SER". aliás, falta tempo até pra percerber que não sabemos o que somos, ou o que queremos ser... as referências tb não ajudam....dá a impressão que a gente é que é louco.. e não o mundo que tá torto

Ligia Lua disse...

Alê, o livro q vc me emprestou afirma que "toda doença é saudade do lar". Portanto, acredito que quem deseja longevidade e saúde precisa entrar em sintonia com sua própria natureza - encontrar o caminho de volta pra casa - visitar aquele lugar dentro de si que é o seu centro, sua verdade, sua humanidade, seu lar! Nosso distanciamento do lugar onde moramos (eu acresentaria do corpo que habitamos também)nos alerta para esse divórcio entre o EU e o SER.